6. Tristes LembrançasAramis: Muito bem, eu vou lhe contar uma parte, a outra parte você saberá mais tarde, quando nos encontrarmos com meus amigos e meu Capitão. Você entendeu?!
Rochefort: - Oui. Claro. Você dita as regras e eu as sigo.
Aramis: - Parfait. - Aramis contou apenas uma parte, como havia dito, para Rochefort. Nâo falou nada sobre François e sua vingança, também não revelou quem já sabia de seu segredo nem que o capitão de Treville a escondia nos mosqueteiros. Disse apenas que fugiu de um casamento forçado e para não ser encontrada, travestiu-se de homem, mudou de nome e passou a incorporar o Regimento dos Mosqueteiros, pois acreditou que estaria melhor protegida assim. Habilidade com espada ela já tinha e por isso conseguiu levar bem o seu disfarce. Contou-lhe então da carta que havia chegado ao Rei pedindo que ela fosse encontrada e revelou a ele o seu nome verdadeiro. - Meu verdadeiro nome é Reneé d'Herblay.
Rochefort ouviu a tudo atentamente e ficou estupefato. Quanta determinação tinha aquela mulher. - Aramis, nunca pensei que lhe diria isso, mas chego a ter medo de você, sabia?!
Aramis: - É mesmo?! Isso, para mim é muito bom. Parecia que Aramis estava de bom humor, mas isso não se podia confirmar em seu olhar. Estava profundamente triste e preocupada, novamente angustiada. O timbre da voz não a deixava mentir e isso não passou despercebido a Rochefort.
Rochefort: - Não sei o que tem em mente para daqui a pouco, mas vai dar tudo certo. Você não lembra o que me disse ontem no jantar?
Aramis: - Não me lembro, desculpe. O que?
Rochefort: - Você me disse que as coisas iriam se resolver. Você só pode dizer uma coisas dessas se acreditar naquilo que está dizendo. Você acredita? - a voz suave e doce de Rochefort havia conseguido uma façanha para aquele momento, conseguiu acalmar Reneé. Ela estava começando a se tranquilizar com aquela voz um pouco rouca, mas ainda assim muito bonita e envolvente que saia dos lábios de Rochefort. Era incrível! Nunca antes ela havia 'ouvido' Rochefort daquela maneira... nunca observou o tom e timbre da voz dele... Só nesta conversa que estavam tendo é que ela prestou-se a notar as características da voz daquele homem a sua frente. Estava surpresa.
Aramis: - Eu... não sei bem no que acreditar agora Rochefort. Mas fico feliz que não esteja me julgando.
Rochefort: - Como eu poderia? Só você conhece os verdadeiros motivos que a levaram a tomar essa decisão tão drástica e somente a você cabe julgar valores sobre isso. Eu não tenho esse direito e tudo que posso dizer é que compreendo.
Aramis: - Obrigada. Ouvir isto a esta altura dos acontecimentos é importante para mim. Sabe Rochefort, mesmo que não sejamos próximos, você está me ajudando muitíssimo a lidar com isso. Estou muito surpresa com suas ações e agradecida por tê-lo encontrado.
Rochefort: - Não está mais achando que eu sou culpado, nem que eu já sabia de tudo? Não vai mais me acusar de ser cínico e dissimulado e me chamar de chantagista? Posso ficar sossegado com isso?
Aramis: - Pode. - foram palavras ditas com tristeza.
Rochefort: - Anime-se. - disse enquanto se levantava da cama. Está amanhecendo. Você disse que já sabia o que fazer; seja o que for, acho que já está chegando a hora. É bom que descanse um pouco e...
Aramis: - Nada disso. Vou me aprontar e volto logo. Você não saia daqui porque você vem comigo resolver estes impasses de uma vez por todas.
Aramis começara a por o seu plano em prática. Ia levar Rochefort até a casa do Capitão de Treville e em seguida, reunir os outros três amigos, D'Artagnan, Athos e Porthos. Estava determinada a contar-lhes a verdade de modo que assim procedeu; Vestiu-se com suas próprias roupas, voltou ao quarto do Rochefort, que também já estava pronto para sair e juntos seguiram para a casa do Capitão Treville. Lembraram de deixar sobre a mesa central, um bilhete para Madame Gertrudes avisando que não estariam em casa para o café e almoço, e pedindo que ela ficasse despreocupada.
Aramis: - Bonita caligrafia.
Rochefort: - Merci.
***
No caminho para a casa do Capitão, pararam na casa de Aramis/Reneé. Reneé pediu que Rochefort esperasse la fora um instante. Em seguida, voltou com um pacote nas mãos.
Aramis: - Vamos, continuemos!
***
Ao chegar na casa do Capitão Treville, Reneé, Rochefort e o próprio Capitão fecharam-se no escritório.
Capitão Treville: - GERARRRD!
Gerard: - Oui, mon capitaine.
Treville: - Por favor, mande buscar com urgência o Athos, o Porthos e o D'Artagnan e peça que venham até meu gabinete. Também quero que cuide para que NINGUÉM nos interrompa a partir de agora, você entendeu bem?! - C. Treville foi taxativo... não toleraria erros.
Gerard: - Oui, monsieur capitaine. Assim será feito. Com sua permissão.
Treville: - Muito bem, vá.
As portas se fecharam.
Treville: - Muito bem, já estamos sozinhos. Aramis, o que raios faz o Rochefort aqui?
Aramis: - Capitão... eh... Rochefort já sabe a verdade...
Rochefort: - ???
Treville: - ????!!!!! O que disse?!! É verdade? Ele já sabe de tudo? Contou a ele?
Aramis: - Não tive escolha Capitão, é uma longa história. Por favor, enquanto esperamos os outros, posso adiantar ao senhor o que foi que aconteceu e porque Rochefort está aqui também. O senhor tinha razão, em algum momento ia chegar a hora... e este momento é agora.
Treville: - Está bem minha filha. Está bem.
Aramis contou ao seu Capitão o que lhe havia sucedido desde a tarde do dia anterior, quando deixou aquele mesmo escritório com a informação da carta misteriosa de sua família. Disse que acabou esbarrando-se com Rochefort na rua e tudo o que passara até então. O relato conseguiu ser feito com calma e serenidade. Rochefort acompanhou tudo calado, não disse palavra e só ousou confirmar com a cabeça quando via que Reneé esperava isso dele.
Treville: - Minha querida, eu sinto muito que tudo isso esteja lhe acontecendo de uma vez só. até parece coisa predestinada a acontecer. Mas você ponderou bem sua decisão de revelar o seu segredo?
Aramis: - Sim... ponderei Capitão. Não posso mais esconder, não posso mais viver com isso engasgado, com a ameaça de ser desmascada e considerando-me como uma espécie de criminosa... Não está certo. Além disso, eles merecem muito mais do que minha consideração, merecem minha confiança... estou com muito medo de como vão reagir Capitão, mas eu vou em frente. Vou contar tudo a eles.
Treville: - Então está bem. Ah, Rochefort?!
Rochefort: - Oui, Monsieur Treville.
Treville: - Obrigado por ajudar Reneé e por prometer guardar o segredo dela. Obrigado por cuidar dela.
Rochefort: - Não me agradeça. Devo-lhes isso e muitíssimo mais, Capitão.
Treville: - Obrigado.
Rochefort fez apenas um sinal afirmativo com a cabeça. Foi então que alguém bateu à porta. Era Gerard e introduzia no gabinete do Capitão Treville, 3 de seus mosqueteiros. Athos, Porthos e D'Artagnan, que chegaram curiosos para saber o que estava acontecendo e o que o seu Capitão poderia querer deles tão cedo, afinal, eram apenas 6h da manhã. A porta se fechou novamente atrás deles e o Capitão pediu que eles se sentassem, ao que todos obedeceram.
Treville: - Sendo assim - falou o Capitão - não vejo porque não começarmos logo. Aramis?! Você quer começar?
Aramis: - Oui, mon Capitaine. - disse num quase gemido.
Athos olhou preocupado para Aramis e interrompeu questionando: - Espere um instante, porque o Rochefort está aqui?
Aramis: - Querido Athos, logo você saberá. Eu tenho de lhes contar algo muito importante sobre minha vida, sobre meu passado. Algo que pode mudar o nosso relacionamento daqui por diante, ebora eu espere sinceramente que não. Quero que saibam que vocês são as pessoas mais importantes da minha vida, pessoas que eu amo muito, do fundo do meu coração, e em quem eu confio a minha vida. Espero que entendam o que eu vou lhes contar a partir de... agora.
Percebendo a seriedade da situação, Porthos quis brincar: - Ora o que é isso, raios!! Que coisa toda é essa? Vais dizer o que, que surgiu uma noiva não sei de onde?
Aramis: - Não Porthos, não é isso meu querido amigo.
Porthos: - Ah, então o que! Parem com este clima fúnebre... Espera! Você não vai sair dos mosqueteiros, vai?!!
D'Artagnan estava sentado ao lado de Rochefort e acompanhava tudo com as mãos na cabeça. Ele entendia o que estava acontecendo. Percebeu logo quando entrou e viu Aramis na sala. A única coisa que não fazia sentido ali era a presença de Rochefort, mas estava certo de que Aramis iria esclarecer aquilo em breve. Ele então interrompeu Porthos: - Porthos, meu amigo. Vamos deixar Aramis falar sem interrupções não é. Parece que o que ele tem a dizer é demasiado importante.
Porthos: - Pois bem, que desembuche então porque está enrolando demais.
Aramis continuou. Começou dizendo que estava escondendo um detalhe importante sobre ele/ela e decidiu que para ter coragem de contar tudo era necessário algo antes. Pediu licença a todos da sala, fez menção ao capitão de que iria usar o aposento ao lado e voltaria dentro de instantes. Reneé despiu-se de seu traje masculino e vestiu o que trazia no pacote. Um
vestido antigo de que ela gostava muito e que usou na noite em que François lhe propôs casamento.
Um flash de memória a transportou de volta aquela noite maravilhosa, somente ela e François, nos jardins do chateau de François, namorando um pouco. Ele estava especialmente lindo naquele dia, estava se preparando para lhe pedir em casamento, ela não sabia, mas a sensação de estar junto de François era tão inebriante, tão boa, tão sublime. E ele, quebrando um silêncio que pairou no ar por alguns instantes, abriu uma pequena caixa nas mãos, apresentou um anel de diamantes belíssimo para Reneé e perguntou: - Reneé d'Herblay, você aceita ser minha esposa? -o flash se apaga da mente de Reneé que percebe qu está pronta para voltar à sala onde todos a aguardam ansiosos. Ela retorna até o gabinete do capitão vestida como mulher, uma linda mulher.
A expressão de susto no rosto de todos os homens presentes não podia ser descrita com palavras. Até mesmo D'Artagnan, Rochefort e o próprio Capitão de Treville, que já sabiam da verdade, ficaram imensamente boquiabertos e surpresos. Athos ficou paralisado e Porthos, bem Porthos tombou da cadeira para trás.
Porthos: - O que é isso? - quebrou o silêncio.
Athos: - A... A... A... Aramis... isso é... Capitão... eu não entendi... é.. algum tipo de... prenda. - gaguejou.
Porthos, já de pé: - É, é isso! Só pode ser... Pois saiba que não tem graça... não tem a menor graça... você me deu o maior susto... só porque você tem aparência de mulher não quer dizer q.... - Aramis interrompeu.
Aramis: - Querido Porthos... - muita tristeza em sua voz - Eu não tenho aparência de mulher, eu... sou uma mulher.
Athos e Porthos: - O QUEEE?
Athos perdeu a cor. Sentiu-lhe o sangue ferver e subir até a cabeça, o coração palpitava acelerado, e o ambiente parecia querer girar. Percebeu que estava com tonturas, mas sentiu-se desconfortável sentado e quis se levantar. Em vão, ao fazer isso, caiu sentado na cadeira. Não teve forças. Desesperado, levou as mãos ao peito. - Aaah.. Meu Deus... eu... preciso de ar... - D'Artagnan apressou-se para socorrer o amigo.
D'Artagnan: - Athos... calma... amigo...
Porthos, ainda em pé, também percebeu seu sangue ferver e isso foi notado pelos demais presentes, pois a sua face estava agora completamente avermelhada e não era de vergonha, mas pura fúria. - O QUE É ISSO? QUE HISTÓRIA É ESSA? MULHER, VOCÊ ESTÁ BRINCANDO CONOSCO? CAPITÃO... ONDE ESTÁ O ARAMIS... ISSO NÃO...
Com a reação de ambos, Aramis pôs-se a chorar no mesmo instante. - Eu sinto muito meus queridos. Eu sei que menti para vocês todos estes anos, mas foi preciso. Se me permitirem, eu vou lhes explicar tudo. Eu tenho razões fortes que me levaram a... - foi interrompida por Porthos.
Porthos: - MENTIU PRA NÓS.... VOCÊ MENTIU... VOCÊ NÃO É UM HOMEM... COMO PÔDE ESCONDER ISSO DE NÓS POR TANTO TEMPO... QUE RAZÕES SÃO FORTES O BASTANTE PARA ISSO... CALE-SE... NÃO QUERO OUVIR MAIS NADA... EU DESCUBRO SÓ AGORA QUE NÃO POSSO CONFIAR EM VOCÊ PORQUE SEQUER SEI QUEM VOCÊ É... O QUE VOCÊ ESPERA.... MENTIROSO!! AAAH.. MENTIROSA... INFÂÂÂÂÂÂME! COMO SE ATREVEU A ABUSAR DA NOSSA CONFIANÇA DESSA MANEIRA? - Porthos estava alucinado de raiva. A fato de que Aramis não era um homem não tinha sido digerido muito bem. Na verdade, parecia que ele não se dava bem conta disso.. estava absurdamente confuso. Ora tratava Aramis por homem e ora por mulher, mas a mentira o havia enfurecido. - VÁ EMBORA DAQUIII... DESAPAREÇA... NÃO QUERO OUVIR MAIS NADA... NÃO QUERO SABER DE MAIS NADA.. NÃO PRECISO... ISSO É UMA LOUCURA... CAPITÃÃÃÃO... O SENHOR... POR FAVOR... O SENHOR TEM QUE TOMAR PROVIDÊNCIAS... EXPULSE ESSE... ESSA... EXPULSE-A DAQUI... POR FAVOR, PELO AMOR DE DEUS... TIREM-NO DA MINHA FRENTE, OU NÃO RESPONDEREI POR MIM.
Aramis continuava chorando. Rochefort foi consolá-la, mas D'Artagnan interveio e a amparou primeiro. Acalme-se Reneé. Tenha fé, ele só está exaltado, em choque. Não vai ficar assim por muito tempo, sabe como ele é impulsivo, mas depois se acalmará e compreenderá tudo. - disse-lhe nos ouvidos. O Capitão segurava Porthos e para acalmá-lo não teve outra alternativa senão lhe dar uma bofetada.
Treville: - Acalme-se Porthos. Já chega!! Está tornando tudo muito mais difícil.
Foi Athos que, conseguindo finalmente ficar de pé, e minimamente recuperado do susto, mas ainda em choque, falou com uma calma inesperada: - Aramis... não sei se devo chamá-la assim... Você traiu a nossa confiança. D'Artagnan, Capitão, pela vossa reação, eu devo entender que... já sabiam a verdadeira identidade de Aramis, estou certo? E também devo considerar que, se Rochefort está aqui, ele que nenhuma proximidade tem conosco, é porque também ele conhece a verdade...
D'Artagnan, Capitão, Rochefort e Aramis: - Sim.
Athos: - Porque? Ara... desculpe... Porque escondeu isso de nós? E porque por tanto tempo? Não merecemos sua confiança. Somente eu e Porthos não sabíamos. Pode imaginar como estou me sentindo agora? Perdoe-me, Ara.. perdão. Estou... estou tão decepcionado com você... mais do que isso, estou magoado contigo... muito mesmo. - a calma e a tristeza profunda na voz de Athos atordoaram Reneé que ainda não parava de chorar e começou a soluçar...
Aramis: - Me desculpe. Me perdoe. Eu imploro que me perdoem, os dois. Porthos, Athos... Eu os amo tanto... não se trata de não ter confiado em vocês... eu confio, confio a minha vida... eu nao podia... - foi interrompida por Athos que voltou a falar.
Athos: - Eu quero acreditar que você realmente teve razões muito fortes para ter ocultado essa verdade por tanto tempo para nós, que você sempre considerou (ao menos assim eu penso) seus melhores amigos. Estou chocado com esta revelação, Aramis (deixou escapar)... mas quero muito, muito mesmo, ouvir os seus motivos, porque você é tão importante para mim, que não posso imaginar a minha vida sem a sua presença ao meu lado. - lágrimas começaram a descer nos olhos de Athos, lágrimas quentes e verdadeiras... do mais puro amor e amizade sincera... num ímpeto, Athos jogou-se nos braços de Aramis e a abraçou forte. - Por favor, não quero que a sua verdade nos separe, eu não posso viver sem você, eu não suportaria*. Diga que tudo o que você vai dizer agora, as suas razões, não mudarão nada entre nós, entre mim e você e entre todos nós. - A comoção na sala foi tamanha que até o Capitão de Treville deixou cair algumas lágrimas. Porthos já estava mais calmo e também estava comovido, é claro. Porém, um trabalho a mais precisaria ser feito com ele. Ainda estava zangado pela mentira e por ter sido o último a saber.
A entrega de Athos encorajou Reneé a continuar o seu relato. Continuava chorando e abraçada a ele, e isso se daria até o fim da sua história. Foi chorando que ela terminou de contar a todos, com os devidos pormenores, tudo o que lhe havia sucedido. Falou do amor de Fraçois, de como se conheceram até o dia do noivado, do assassinato de François, das intenções do seu tio e casá-la rapidamente com outro homem rico, o Conde Duchateau, muito mais velho que ela, de como ela fugiu para que isso não acontecesse em sua vida, da dor que sentiu ao enterrar François, do desejo de vingança e do juramento de que realizar essa vingança em honra da memória de François e do amor que sentiam um pelo outro. Falou que procurou o Capitão de Treville, grande amigo de seu pai, pediu ajuda para se esconder. Passando-se por homem e entrando no corpo dos mosqueteiros, facilitaria e muito a sua busca pelo culpado da morte de François. Falou de Manson com muito rancor em sua voz. Depois contou todo o resto a eles que ouviram atentamente, sem interrompê-la. Em alguns momentos, era preciso que lhe transmitissem força para continuar, pois aquelas lembranças eram terrivelmente dolorosas e contá-las a eles depois de esconder a verdade tanto tempo ainda lhe faziam sentir vergonha por ser uma 'mentirosa' como acusou Porthos. Emendou sua história inteira à história da recém chegada carta ao Rei por parte de sua família que agora a procurava desesperadamente. Um mistério terrível que ela não conseguia decifrar; e apontou a necessidade de proteger o Capitão. Antes que lhe perguntassem, Reneé começou a relatar como foi que D'Artagnan e Rochefort descobriram o seu segredo, pois eles também não deveriam saber de nada. Se souberam, foi por acidente. A única coisa que não mencionou era que havia mais alguém que sabia da verdade. Esse alguém era Jean. Mas seria demasiadamente embaraçoso para ela dizer que Jean descobriu a verdade porque espiou pelo buraco da fechadura enquanto ela tomava banho. Isso poderia passar. Ah, claro, no início do relato, Reneé lhes disse o nome verdadeiro.
Tudo esclarecido, e ânimos um pouco mais calmos, Reneé parou de chorar. Athos a abraçou mais uma vez, com ternura.
Athos: - Eu vou precisar de um tempo para me situar, Ar.. Reneé. - sorriu levemente. - Não estou mais magoado, mas, continuo triste. Espero que me compreenda, assim como estou me esforçando para compreendê-la também. - Athos conseguia ser um cavalheiro até sofrendo. - Eu sei que vou entender tudo com total clareza, eu sei que vou.
Reneé: Não tenho o direito de lhes cobrar nada... eu só posso implorar a compreensão de vocês, mas nunca exigir. Vocês são a minha família, são meus amigos queridos que eu tanto amo, eu não quero perdê-los por nada neste mundo e é meu desejo mais forte que nossa amizade não seja destruída por conta de tudo o que lhes acabo de contar.
Athos e Porthos perceberam que a vida de Reneé foi marcada por muito sofrimento para uma mulher tão jovem e solitária. Órfã de pai e mãe, não pôde contar com uma família que a amasse e a relação com eles, foi a única relação de afeto que vivera, a exceção do amor de François, é claro. Mas este, lhe fora arrancado com violência e essas marcas transformaram a vida dela, e por consequência, agora estava mudando a deles.
D'Artagnan não teve dúvida, percebeu que era hora de selar aquele momento renovando as juras de amizade eterna. Tirou a espada da bainha e bradou: Um por todos! - Foi seguido pelo próprio Capitão Treville, primeiro, depois o Athos, que tomou a mão de Reneé e segurou junto dela a mesma espada, e com ressalvas e resmungos inaudíveis, o valente e irritadiço Porthos, que agora estava chorando. Juntaram espadas no ar e terminaram: E TODOS POR UM!
Só Rochefort não ousou participar daquele momento, seria forçoso demais. Além disso, ele sequer era mosqueteiro. Ajudou Reneé, era evidente, e a entendeu. Mas não eram amigos propriamente ditos, ao menos não amigos como aqueles quatro. O Capitão de Treville entrara no 'jogo' porque era um pai para aqueles seus mosqueteiros. Eram mesmo os melhores de seu regimento e especiais de verdade por seus valores e conduta. Apesar disso, Rochefort sorriu feliz com o desfecho daquele momento que tinha tudo para ser trágico. Podia ser o fim da amizade dos quatro, podia ser o fim para Reneé que estaria sozinha para enfrentar o que estava por vir... sim, porque a próxima etapa, era, além de convencer plenamente a Porthos, descobrir porque a família dela a estava procurando agora, que motivos estavam por trás disso.
***
* Não é uma declação de amor, entre homem e mulher, é declaração de amor fraterno. Esses quatro amigos são famosos pela amizade verdadeira que nutriam um pelo outro, eu quis enfatizar isso aqui nesta cena. Eu sei que tá meio forçadinho.