III - Confissões e conspirações
Era mais um dia no Louvre. Ana de Austria, rainha de França, admirava o fabuloso trabalho de Kitty Elliot, a nova aia. Era uma jovem inglesa, linda, ainda que um pouco discreta, de cabelos ruivos cor de fogo e, pelos vistos, muito jeito para a custura. Naquele momento Kitty ajudava Constance a preparar o vestido para a rainha usar no aniversário da coroação do rei Luis.
- Muito bem, Kitty. - Disse Constance.
- A minha mãe tinha uma loja em Inglaterra. - Explicou ela, com timidez. - E ensinou-me o que sei.
- Mas está muito bonito. - Confirmou a rainha Ana, encorajando-a. - Bem, vou para os aposentos. Continua com o bom trabalho, Kitty.
Assim que a soberana saiu, a jovem Kitty olhou para a janela. Parecia que estava a pensar em algo que lhe causava uma grande tristeza. Aliás, quando conhecera, reparou logo no seu ar surombático.
- Kitty.
Kitty virou para Constance. Notava-se que estava com vontade de chorar.
- Tens algum problema? - Perguntou Constance amavelmente. - Sei que mal nos conhecemos e que és nova aqui, mas podes contar comigo.
- Obrigada, menina Constance. - Agradeçeu a inglesa com um meio sorriso. - É...uma coisa minha...muito complicada.
Respirou fundo antes de desabafar. - É o meu pai. Ele era membro do parlamento. - Continuou. - Agora o rei dissolveu.
- Já soube disso. - Confirmou Constance.
- Mas o pior...Bem, também deves da guerra contra os Escoceses. O meu pai...tentou fazer alguma coisa. Intercedeu perante o rei, nós temos fundos sufientes, já para não falar em vidas que se perdem...E...Oh, Constance, ele foi levado ao Star Chamber.
- Star Chamber?
- Um tribunal. - Explicou Kitty. - Onde são julgados os são contra a nossa igreja ou governo segundo as nossas leis. O Star Chamber! Sabe-se que torturas horriveis...
- Pronto, Kitty. - Consolou-a Constance.
- Foi por isso que vim para França, com o meu irmão Richard. A minha mãe ficou lá para tentar dar apoio ao meu pai. E...não sei...gostava de poder fazer alguma coisa...
- Eu sei. - Disse Constance, amparando-a. - Vais ver. Tudo se resolverá.
- Espero que sim.
Anoitecera em Paris. A escuridão ocultava Manson e o seu interlocutor. Se fosse á plena luz do dia e os dois homes quisessem ser decobertos, o mais comum dos mortais saberia quem estava com Manson: Gaspar de Guzmán, conde de Olivares e ministro do rei Filipe IV de Espanha.
- Acho que sabeis a razão pela qual te chamei aqui.
- Não creio que haja outra razão para vir de proposito de Madrid. - Reclamou o conde.
-
Señor conde, meu amigo. - Parecia que manson chegara ao ponto que realmente interessava. - Estais entre a espada e a parede. Vosso rei desconfia da sua politica. O cerco de Portugal já se aperta. As pessoas revoltam-se com os vossos pesados impostos. Espanha só tem a ganhar.
- Ou seja. - Confirmou Olivares - , uma aliança com Inglaterra.
- Não seria a primeira vez que Inglaterra se uniria a um país católico. Esqueceste-vos dos Irlandeses? Chegaram ao ponto de se unir a eles contra a Escócia. Tal como eu disse, meu caro conde, Espanha só tem a ganhar. Os dois inimigos de França, compreendeis?
- Lógico.
- Vamos, Kitty. Vais conhecer o D'artagnan e os outros. - Sugeriu Constance a caminho de casa, onde estavam D'artagnan e os três mosqueiros.
- D'artagnan? - Inquiriu Kitty. - Não é aquele mosqueteiro de que ouvi falar, que ficou encarrege do apanhar o assassino do Duque de Buckinghan?
- Esse mesmo.
- Incrivel! - Comentou Kitty impressionada. - Falaram-me muito nele. Deve ser muito corajoso. E tu conhece-lo?
- Bem, até demais. - Disse Constance, um pouco envergonhada. - Nós estamos praticamente noivos.
Entraram. Lá estavam eles. D'artagnan esboçava um sorriso de orelha a orelha ao ver Constance. E quem seria aquela?
- Olá, rapazes.
- Constance! Bons olhos te vejam. - Saudou Porthos.
- Esta é a Kitty. - Apresentou-lhes Constance. D'artagnan olhou para Kitty com curiosidade. A rapariga parecia ser simpática, para além de ser bonita. Kitty mostrou-lhe um sorrisinho, que deixava bem claro que gostara de conhecer o jovem Gascão. D'artagnan concentrou-se nos amigos e em Constance. E assim, festejaram o regresso de D'artagnan em Paris.
- E lembras-te quando atámos o Rochefort ao moinho? - Recordou Porthos, fazendo os amigos soltaram uma valente gargalhada.
- O Rochefort é que não deve ter achado muita graça. - Disse Athos.
- Quem me dera estar lá, só para ver. - Disse D'artagnan, provavelmente a imaginar a cena.
- Estavas demasiado ocupado a fingir-te de morto. - Lembrou Aramis.
- Mas lá conseguiste trazer os diamantes da rainha de volta. - Disse Constance, cheia de orgulho no seu amado. - O meu heroi preferido.
- Pensei que era o único! - Replicou D'artagnan divertido com a sua querida e o seu grande amor Constance.
Constance acompanhou Kitty até casa que ficava a umas duas ruas perto do palácio. As duas conversavam animadamente sobre os amigos mosqueteiros e os planos para o dia seguinte. Até que depararam-se com as ultimas pessoas que Constance esperava ver: Jussac e a sua pandilha de guardas.
- Posso saber o que as donzelas estão aqui a fazer a estas horas? - Perguntou ele com a sua habitual cara de mau.
- Não. Não tendes nada a ver com isso. - Disse Constance em tom de desafio.
- Ter, até temos. Somos os guardas de sua eminência, o Cardeal de Richelieu. Se alguem vos visse, decerto que pensaria que estarieis a conspirar.
- Que disparate! Kitty, vamos embora! Deixai-nos em paz, Jussac. Temos mais que fazer.
- Isso era o que as meninas queriam. - Declarou Jussac, já de espada desembainhada e fazendo sinal aos seus homens.
- Ei, Jussac!
Era só o que faltava para Jussac. D'artagnan afinal viera com elas para se assegurar que elas ficariam bem e não lhe agradara nada a ideia de um guarda de Richelieu a incomodar.
- Não tendes vergonha? - Repreendeu ele. - A incomodar duas jovens senhoras?! Porque não vos meteis com um homem do vosso tamanho?
- Com quem? Contigo? - Jussac soltou um riso trocista. - Ouvistes? Aqui o rapazola gascão a armar-se em heroi. Já a formiga tem catarro.
- O "rapazola gascão" tem nome! E vós, melhor do que ninguém, deveis vos lembrar dele, porque ele e os amigos já vos deram umas tareias e não foram poucas. - Reclamou D'artagnan. - E se não quereis levar mais uma, deixai estas raparigas em paz e segui o vosso caminho.
Evidentemente que Jussac não tinha emenda, mas já não foi a tempo, pois levaram com os outros três mosqueteiros, mostrando mais uma vez a sua destreza com a espada. Dois deles bem tentaram fazer frente ao matulão do Porthos que nem precisou da espada para lhes dar uns valentes socos. Athos fazia juz á sua fama de espadachim eximio, enquanto que Aramis o cobria, lutando tão valentemente como...qualquer homem, ou ainda melhor.
- Estes tipos já deviam aprender a nunca se meterem com um mosqueteiro.
- Apoiado, Porthos. - Concordou Aramis, porém ainda bem disposta por ver Jussac e os seus homens sairem dali a sete pés.
- Tudo bem, meninas? - Perguntou Athos.
- Sim. - Respondeu Kitty. - Graças a vós. E a ti também, D'artagnan.
D'artagnan riu embaraçado, como se dissesse "Não foi nada". Os quatro acompanharam Constance e Kitty.
Todavia não repararam que estavam a ser observados.
Bonjour, meus amigos e amigas do forum. Mais um capitulo. Alegra-me que estejam a gostar para primeira vez que escrevo um fic, lol. Mais uma vez, obrigada pelo apoio.
Já agora, umas pequenas notas: O tribunal Star Chamber realmente existiu. Era o tribunal da lei inglesa, até que foi abolido em 1641. O Conde de Olivares foi baseado mesmo numa personalidade histórica.
Até ao próximo, camaradas mosqueteiros. Um por todos e todos por um.
Última edição por Fraulein Andreia MC em Ter Nov 03, 2009 4:14 am, editado 2 vez(es)