Chegara a finalmente a Paris… esta movimentada cidade não ficava muito longe de Noisy-le-Sec, vendo bem a situação, que melhor sitio existiria para passar completamente despercebida que não a grande Capital de França, ali no meio da multidão, onde milhares se cruzavam todos os dias, que passavam apressadamente nos seus afazeres, sem sequer olharem para a cara de quem cruzava no caminho.
Sentia medo, era um facto… mas agora era demasiadamente tarde para voltar atrás. A “farsa” tinha começado, à sua frente esperava-a uma nova vida, como um “homem”. E curiosamente reparara, que dentro daquelas roupas masculinas as pessoas olhavam-na de uma forma diferente, não era “anormal” ver-se um rapaz chegar sozinho a uma cidade, se entrasse em Paris como uma jovem sozinha, chamaria de imediato as atenções sobre si e algumas delas indevidas. De outra forma rapidamente seria descoberta, fosse por quem fosse que a família mandasse atrás de si.
A chuva intensa que persistira nos últimos dias deixara as ruas de Paris completamente enlameadas e imundas, carregadas de todo o tipo de detritos. Cavalos e pessoas tinham lama suja e mal cheirosa até aos joelhos, para ajudar apesar da chuva estava terrivelmente frio, se havia uma má altura do ano para viajar de certo que seria aquela. Tudo que Renée queria agora era um lugar aconchegado onde ficar, onde pudesse comer uma refeição quente e reflectir como iria levar a sua vida dali para a frente, o pouco dinheiro que tinha conseguido levar consigo em dias iria esgotar-se, tinha que arranjar um trabalho… algo que não levantasse suspeitas sobre a sua verdadeira… “natureza”.
Há pouco mais que um dia ainda estava em Noisy-le-Sec, enclausurada no seu quarto a chorar descontroladamente, ainda na angústia da trágica morte de François, e da notícia torturante de um casamento indesejável, mas muito proveitoso para a sua família, teria que unir-se, somente dali a poucos dias, com um homem que nunca vira na vida. Como mulher deveria obedecer cegamente a essa decisão, sem a por em causa. Mas, Renée não conseguiu acatar assim de cabeça baixa aquele destino e num impulso fugiu, deixando para trás tudo que conhecia e as mordomias da sua vida como fidalga!
A taverna estava apinhada de pessoas que tentavam aquecer-se, ainda que ilusoriamente, com o calor do álcool. Renée dirigiu-se calmamente a uma mesa livre, retirou a capa encharcada pela chuva e pendurou-a sobre a cadeira. Sentou-se e olhou em volta, pousou a cabeça sobre as mãos e suspirou, o que estava a fazer ali?!
Uma jovem criada, aproximou-se da mesa.
- Pareceis cansado, jovem Senhor, posso aconselhar-vos uma boa refeição quente, acompanhada de um bom vinho? – pousou na mesa o jarro de vinho.
Apesar de surpreendida, pela presença ao seu lado Renée olha para a jovem e tenta esboçar um ligeiro sorriso. Baixou o tom da voz, para tentar que esta se assemelhasse mais com a de um jovem rapaz da sua idade, seria a primeira vez que iria falar assim, poderia deitar tudo a perder se corresse mal a “imitação”…
- O…Obrigado!... Uma boa refeição é tudo que necessito! – agarrou no jarro de vinho e colocou-o a seu lado.
- Irei então tratar de vos aconchegar o estômago, aguardai! – afastou-se.
Renée sorriu, talvez a primeira vez que sorria em semanas, a jovem criada era alegre e por segundos conseguiu contagia-la com essa alegria. Renée olhou à sua volta e observou com atenção os homens que ali comiam, como estes falavam, riam e como bebiam, teria que apreender alguns daqueles “tiques” rapidamente, isto se queria passar por um homem de forma credível, sem levantar suspeitas.
As portas da taverna abriram-se abruptamente de uma forma ruidosa, para dar entrada a um grupo barulhento de soldados que invadiram o local a rir e a praguejar. Causaram de imediato o incómodo em alguns dos clientes, que rapidamente abandonaram o estabelecimento após a entrada aparatosa do grupo. Renée tentava, ainda que com alguma dificuldade ignora-los, na esperança que quando estes passassem por ela não a importunassem.
Jussac, claramente o chefe do grupo, ria e cumprimentava os seus conhecidos que ali bebiam na taverna. A jovem criada que falara com Renée estava de volta com a comida e sorridente pousou o prato à frente de Renée, que educadamente agradeceu o gesto, para alguma surpresa da criada, que visivelmente não parecia habituada a delicadezas por parte dos clientes da taverna. Ainda mal Renée começara a comer ouvira a mesma criada a discutir em voz alta com o grupo de soldados, que insistiam em importuna-la, fazendo certos avanços obscenos. Renée observou indignada o grupo, na esperança que alguém dissesse algo e que “salvasse” a criada daquelas atenções incomodativas, mas ali ninguém parecia querer fazer frente àquele grupo barulhento. Assim continuavam a cerca-la cortando-a de todas as saídas possíveis.
- Então, então não nos queres fazer companhia, minha querida?! – o soldado puxou-a pelo braço.
- Senhor, agradecia que me soltásseis! – empurra-o.
- Ora, ora então querida… podemos ser todos “amigos”! Quereis ser nossa “amiga”? – puxa-a pela cintura contra si.
- Não, soltai-me! – tenta em vão, libertar-se do abraço forçado.
- Acho que o que ela quer é “subir”- fez um gesto com a cabeça apontado para os quartos que se situavam no andar de cima - … certo, beleza? – disse outro soldado que a tentava beijar à força.
- Não! Como vos atreveis?! – dá um forte estalo no soldado, que fica a sangrar do canto da boca.
- Minha “cabrazinha” vadia, vais ver como… - puxa-a violentamente pelos cabelos da nuca e preparava-se para a agredir de punho cerrado.
Renée nesse momento, sem sequer pensar nas consequências do seu acto, ergueu-se irada do seu lugar e dirigiu-se em passadas largas para junto do grupo, puxou a jovem criada assustada e a chorar para trás de si. Apontado algo tremulamente a espada à garganta do soldado agressor, que fica surpreso mas extremamente irritado com a intromissão.
- Afinal, o que se passa aqui?! – gritou Jussac, ao aperceber-se da situação. Que até então estava distraído a confraternizar com duas das criadas mais velhas do albergue.
- Parece-me Senhor Jussac, que aqui o fedelho quer ser herói… ou um morto! – disse o soldado com a espada apontada.
- Meu jovem, guarda o “brinquedo” e sai daqui! – Jussac aproximou-se com alguma calma.
- Lamento Senhor, mas sois vós e os vossos amigos que estão a mais! – Renée tentava manter a calma, mas por dentro tremia como varas verdes num dia de vendaval, o que estava afinal a fazer? – pensava.
- Ora, ora se não é corajoso o nosso petiz! – riu-se com prazer Jussac. . - Gosto da tua audácia, rapaz!
O silêncio gerara-se aos poucos na taverna, as pessoas observavam incrédulas e algo entusiasmadas para a cena, como se alguém tivesse feito o maior erro da vida, ao enfrentar aquele grupo de soldados rufiões. Nem Renée sabia agora como sair daquela situação, sentiu naquele momento que nem sempre fazer o mais certo seria o melhor.
- Senhor…sou um homem como vós e exijo respeito! – disse Renée.
- AH! AH! Rapazito, para teu bem, guarda-me essa espada e pira-te daqui, antes que perda a minha paciência! -Retorquiu Jussac em tom ameaçador.
O dono da taverna ao ver tal aparato e o constante agravamento da situação corre, para junto do grupo, largando tudo o que estava a fazer de momento.
- Caro Senhor Jussac peço desculpa há algo que possa fazer por vós?! – estava nervoso, notava-se o medo que sentia do grupo.
- Por agora nada, ide à vossa vida taberneiro! Vou fazer-vos um favor ao meter na rua este “fedelhote” atrevido, de seguida virei pessoalmente ensinar a vossa empregada a “agradar” com respeito, os vossos clientes! – empurrou a empregada para o taverneiro.
Renée olhou indignada para Jussac, agora era demasiada tarde para fugir, se tinha aprendido algo com François, era que um homem não fugia a um confronto e afinal tinha sido ela a meter-se naquela alhada, de alguma maneira teria que livrar-se sozinha.
- Muito bem… - baixou a espada – Vou sair então… Senhor!
- Assim mesmo é que é, lindo menino… vai lá a correr para o colinho da mamã! – zombou.
Renée sentiu um calor enraivecido a percorrer-lhe por todo o corpo, que homem irascível.
- Disse que saía Senhor, mas antes exijo de vós uma satisfação… pela honra da jovem que vossos homens assediaram!
- Ah… Ah… honra? Numa empregadinha de taverna? Mas pois bem, rapazes isto vai ser divertido! – Jussac ria-se com satisfação.
- Senhor, peço-vos não tendes que vos bater por mim… - a empregada puxou o braço de Renée.
- Foram incómodos para vós e estragaram o meu jantar… - lançou um olhar de desagrado a Jussac.
Lá fora a chuva tinha cessado, mas o frio fazia sentir-se muito bem. Renée sabia somente o mais básico no manejamento de armas, afinal vinha de uma família de tradição militar vira muitas vezes enquanto criança familiares seus a treinar, chegado ás escondidas a imita-los munida de um graveto e um tronco de arvore como seu adversário, mas aquilo nada tinha a haver com uma brincadeira de criança, estava metida num sarilho enorme.
- Vamos lá despachar isto, está frio demais para isto! – desembainha a espada. – Rapaz, ainda vais a tempo de agarrar nas tuas coisas e ires para casa… vivo!
- Estais com medo Senhor?! – de facto era ela que sentia a coragem a abandona-la, chegara a Paris para fugir de um destino indesejado e ia agora certamente morrer numa rixa idiota.
- Senhor Jussac, dai de uma vez uma lição aqui ao mancebo! – disse um dos soldados. – Está a dar-me cabo dos nervos!
- Luc… acho que poderias assim começar tu as… honras! – faz um pequeno gesto ao companheiro.
Este sem esperar muito mais soca à traição Renée, que cai imediato e atordoada ao chão enlameado, num ápice dois dos soldados agarram nela pelos braços e erguem-na novamente.
- Agora vais aprender a respeitar as fardas que usamos… fedelho intrometido! - soca-a no estômago.
- Aaaaagggg…. – Renée contorce-se com a dor aguda e súbita.
Os dois soldados encorajados pelos companheiros acabam por larga-la de novo para o chão, enquanto um deles preparava-se para pontapeá-la, ouve-se um alerta.
- Vem aí os homens do Treville! – o soldado corre para junto de um dos cavalos presos à entrada da taverna e monta-o.
Jussac contrariado com a interrupção, ergue a cabeça de Renée do chão pelos cabelos, e fala-lhe junto ao ouvido:
- Tiveste sorte fedelhote… mas não me vou esquecer de ti! – larga-a com desdém.
- Nem… eu… de vós! – esboça um sorriso dorido mas provocador.
- Meu grande… - puxa de um punhal e encosta-o à garganta de Renée.
- Senhor, vamos! Iremos arranjar problemas! – gritou-lhe um dos homens.
- Sim, vamos… - chuta a lama para cima de Renée e corre para o seu cavalo.
Dois rapazes surgem e desmontam rapidamente e correm para junto de Renée que ainda se contorcia no solo enlameado. O mais velho puxa-a do chão.
- Ei… rapaz, estás bem?! – tenta ampara-lo enquanto o ergue.
- Novamente os “jeitosos” do Jussac só pode… -disse o segundo rapaz. – Um destes dias Armand… - contorceu os dedos das mãos estalando-os.
- Calma Isac, - sorriu - vamos leva-lo para dentro!
Dentro da taverna a mesma criada que fora agredida pelos soldados agradecia a Renée pelo feito que apesar de idiota definia a sua coragem.
- Quer dizer que sozinho fez frente aqueles rufias?... Tens coragem rapaz admito-o! – dá uma palmada nas costas de Renée que a faz gemer com as dores que ainda assolavam o abdómen.
- Então … não o magoes mais ainda! – riu-se - Eu chamo-me Armand Athos de la Fére… este gigantão é o Isac Porthos…vós!?
- Re… digo Aramis… o meu nome é Aramis d’Herblay… - sorriu – Obrigad…o, pela ajuda!
Só para terem uma noção da distancia de Noisy-le-Sec de Paris fica abaixo um mapa (é a região em amarelo)
Ja agora este é o brasão de armas da região...
Sentia medo, era um facto… mas agora era demasiadamente tarde para voltar atrás. A “farsa” tinha começado, à sua frente esperava-a uma nova vida, como um “homem”. E curiosamente reparara, que dentro daquelas roupas masculinas as pessoas olhavam-na de uma forma diferente, não era “anormal” ver-se um rapaz chegar sozinho a uma cidade, se entrasse em Paris como uma jovem sozinha, chamaria de imediato as atenções sobre si e algumas delas indevidas. De outra forma rapidamente seria descoberta, fosse por quem fosse que a família mandasse atrás de si.
A chuva intensa que persistira nos últimos dias deixara as ruas de Paris completamente enlameadas e imundas, carregadas de todo o tipo de detritos. Cavalos e pessoas tinham lama suja e mal cheirosa até aos joelhos, para ajudar apesar da chuva estava terrivelmente frio, se havia uma má altura do ano para viajar de certo que seria aquela. Tudo que Renée queria agora era um lugar aconchegado onde ficar, onde pudesse comer uma refeição quente e reflectir como iria levar a sua vida dali para a frente, o pouco dinheiro que tinha conseguido levar consigo em dias iria esgotar-se, tinha que arranjar um trabalho… algo que não levantasse suspeitas sobre a sua verdadeira… “natureza”.
Há pouco mais que um dia ainda estava em Noisy-le-Sec, enclausurada no seu quarto a chorar descontroladamente, ainda na angústia da trágica morte de François, e da notícia torturante de um casamento indesejável, mas muito proveitoso para a sua família, teria que unir-se, somente dali a poucos dias, com um homem que nunca vira na vida. Como mulher deveria obedecer cegamente a essa decisão, sem a por em causa. Mas, Renée não conseguiu acatar assim de cabeça baixa aquele destino e num impulso fugiu, deixando para trás tudo que conhecia e as mordomias da sua vida como fidalga!
A taverna estava apinhada de pessoas que tentavam aquecer-se, ainda que ilusoriamente, com o calor do álcool. Renée dirigiu-se calmamente a uma mesa livre, retirou a capa encharcada pela chuva e pendurou-a sobre a cadeira. Sentou-se e olhou em volta, pousou a cabeça sobre as mãos e suspirou, o que estava a fazer ali?!
Uma jovem criada, aproximou-se da mesa.
- Pareceis cansado, jovem Senhor, posso aconselhar-vos uma boa refeição quente, acompanhada de um bom vinho? – pousou na mesa o jarro de vinho.
Apesar de surpreendida, pela presença ao seu lado Renée olha para a jovem e tenta esboçar um ligeiro sorriso. Baixou o tom da voz, para tentar que esta se assemelhasse mais com a de um jovem rapaz da sua idade, seria a primeira vez que iria falar assim, poderia deitar tudo a perder se corresse mal a “imitação”…
- O…Obrigado!... Uma boa refeição é tudo que necessito! – agarrou no jarro de vinho e colocou-o a seu lado.
- Irei então tratar de vos aconchegar o estômago, aguardai! – afastou-se.
Renée sorriu, talvez a primeira vez que sorria em semanas, a jovem criada era alegre e por segundos conseguiu contagia-la com essa alegria. Renée olhou à sua volta e observou com atenção os homens que ali comiam, como estes falavam, riam e como bebiam, teria que apreender alguns daqueles “tiques” rapidamente, isto se queria passar por um homem de forma credível, sem levantar suspeitas.
As portas da taverna abriram-se abruptamente de uma forma ruidosa, para dar entrada a um grupo barulhento de soldados que invadiram o local a rir e a praguejar. Causaram de imediato o incómodo em alguns dos clientes, que rapidamente abandonaram o estabelecimento após a entrada aparatosa do grupo. Renée tentava, ainda que com alguma dificuldade ignora-los, na esperança que quando estes passassem por ela não a importunassem.
Jussac, claramente o chefe do grupo, ria e cumprimentava os seus conhecidos que ali bebiam na taverna. A jovem criada que falara com Renée estava de volta com a comida e sorridente pousou o prato à frente de Renée, que educadamente agradeceu o gesto, para alguma surpresa da criada, que visivelmente não parecia habituada a delicadezas por parte dos clientes da taverna. Ainda mal Renée começara a comer ouvira a mesma criada a discutir em voz alta com o grupo de soldados, que insistiam em importuna-la, fazendo certos avanços obscenos. Renée observou indignada o grupo, na esperança que alguém dissesse algo e que “salvasse” a criada daquelas atenções incomodativas, mas ali ninguém parecia querer fazer frente àquele grupo barulhento. Assim continuavam a cerca-la cortando-a de todas as saídas possíveis.
- Então, então não nos queres fazer companhia, minha querida?! – o soldado puxou-a pelo braço.
- Senhor, agradecia que me soltásseis! – empurra-o.
- Ora, ora então querida… podemos ser todos “amigos”! Quereis ser nossa “amiga”? – puxa-a pela cintura contra si.
- Não, soltai-me! – tenta em vão, libertar-se do abraço forçado.
- Acho que o que ela quer é “subir”- fez um gesto com a cabeça apontado para os quartos que se situavam no andar de cima - … certo, beleza? – disse outro soldado que a tentava beijar à força.
- Não! Como vos atreveis?! – dá um forte estalo no soldado, que fica a sangrar do canto da boca.
- Minha “cabrazinha” vadia, vais ver como… - puxa-a violentamente pelos cabelos da nuca e preparava-se para a agredir de punho cerrado.
Renée nesse momento, sem sequer pensar nas consequências do seu acto, ergueu-se irada do seu lugar e dirigiu-se em passadas largas para junto do grupo, puxou a jovem criada assustada e a chorar para trás de si. Apontado algo tremulamente a espada à garganta do soldado agressor, que fica surpreso mas extremamente irritado com a intromissão.
- Afinal, o que se passa aqui?! – gritou Jussac, ao aperceber-se da situação. Que até então estava distraído a confraternizar com duas das criadas mais velhas do albergue.
- Parece-me Senhor Jussac, que aqui o fedelho quer ser herói… ou um morto! – disse o soldado com a espada apontada.
- Meu jovem, guarda o “brinquedo” e sai daqui! – Jussac aproximou-se com alguma calma.
- Lamento Senhor, mas sois vós e os vossos amigos que estão a mais! – Renée tentava manter a calma, mas por dentro tremia como varas verdes num dia de vendaval, o que estava afinal a fazer? – pensava.
- Ora, ora se não é corajoso o nosso petiz! – riu-se com prazer Jussac. . - Gosto da tua audácia, rapaz!
O silêncio gerara-se aos poucos na taverna, as pessoas observavam incrédulas e algo entusiasmadas para a cena, como se alguém tivesse feito o maior erro da vida, ao enfrentar aquele grupo de soldados rufiões. Nem Renée sabia agora como sair daquela situação, sentiu naquele momento que nem sempre fazer o mais certo seria o melhor.
- Senhor…sou um homem como vós e exijo respeito! – disse Renée.
- AH! AH! Rapazito, para teu bem, guarda-me essa espada e pira-te daqui, antes que perda a minha paciência! -Retorquiu Jussac em tom ameaçador.
O dono da taverna ao ver tal aparato e o constante agravamento da situação corre, para junto do grupo, largando tudo o que estava a fazer de momento.
- Caro Senhor Jussac peço desculpa há algo que possa fazer por vós?! – estava nervoso, notava-se o medo que sentia do grupo.
- Por agora nada, ide à vossa vida taberneiro! Vou fazer-vos um favor ao meter na rua este “fedelhote” atrevido, de seguida virei pessoalmente ensinar a vossa empregada a “agradar” com respeito, os vossos clientes! – empurrou a empregada para o taverneiro.
Renée olhou indignada para Jussac, agora era demasiada tarde para fugir, se tinha aprendido algo com François, era que um homem não fugia a um confronto e afinal tinha sido ela a meter-se naquela alhada, de alguma maneira teria que livrar-se sozinha.
- Muito bem… - baixou a espada – Vou sair então… Senhor!
- Assim mesmo é que é, lindo menino… vai lá a correr para o colinho da mamã! – zombou.
Renée sentiu um calor enraivecido a percorrer-lhe por todo o corpo, que homem irascível.
- Disse que saía Senhor, mas antes exijo de vós uma satisfação… pela honra da jovem que vossos homens assediaram!
- Ah… Ah… honra? Numa empregadinha de taverna? Mas pois bem, rapazes isto vai ser divertido! – Jussac ria-se com satisfação.
- Senhor, peço-vos não tendes que vos bater por mim… - a empregada puxou o braço de Renée.
- Foram incómodos para vós e estragaram o meu jantar… - lançou um olhar de desagrado a Jussac.
Lá fora a chuva tinha cessado, mas o frio fazia sentir-se muito bem. Renée sabia somente o mais básico no manejamento de armas, afinal vinha de uma família de tradição militar vira muitas vezes enquanto criança familiares seus a treinar, chegado ás escondidas a imita-los munida de um graveto e um tronco de arvore como seu adversário, mas aquilo nada tinha a haver com uma brincadeira de criança, estava metida num sarilho enorme.
- Vamos lá despachar isto, está frio demais para isto! – desembainha a espada. – Rapaz, ainda vais a tempo de agarrar nas tuas coisas e ires para casa… vivo!
- Estais com medo Senhor?! – de facto era ela que sentia a coragem a abandona-la, chegara a Paris para fugir de um destino indesejado e ia agora certamente morrer numa rixa idiota.
- Senhor Jussac, dai de uma vez uma lição aqui ao mancebo! – disse um dos soldados. – Está a dar-me cabo dos nervos!
- Luc… acho que poderias assim começar tu as… honras! – faz um pequeno gesto ao companheiro.
Este sem esperar muito mais soca à traição Renée, que cai imediato e atordoada ao chão enlameado, num ápice dois dos soldados agarram nela pelos braços e erguem-na novamente.
- Agora vais aprender a respeitar as fardas que usamos… fedelho intrometido! - soca-a no estômago.
- Aaaaagggg…. – Renée contorce-se com a dor aguda e súbita.
Os dois soldados encorajados pelos companheiros acabam por larga-la de novo para o chão, enquanto um deles preparava-se para pontapeá-la, ouve-se um alerta.
- Vem aí os homens do Treville! – o soldado corre para junto de um dos cavalos presos à entrada da taverna e monta-o.
Jussac contrariado com a interrupção, ergue a cabeça de Renée do chão pelos cabelos, e fala-lhe junto ao ouvido:
- Tiveste sorte fedelhote… mas não me vou esquecer de ti! – larga-a com desdém.
- Nem… eu… de vós! – esboça um sorriso dorido mas provocador.
- Meu grande… - puxa de um punhal e encosta-o à garganta de Renée.
- Senhor, vamos! Iremos arranjar problemas! – gritou-lhe um dos homens.
- Sim, vamos… - chuta a lama para cima de Renée e corre para o seu cavalo.
Dois rapazes surgem e desmontam rapidamente e correm para junto de Renée que ainda se contorcia no solo enlameado. O mais velho puxa-a do chão.
- Ei… rapaz, estás bem?! – tenta ampara-lo enquanto o ergue.
- Novamente os “jeitosos” do Jussac só pode… -disse o segundo rapaz. – Um destes dias Armand… - contorceu os dedos das mãos estalando-os.
- Calma Isac, - sorriu - vamos leva-lo para dentro!
Dentro da taverna a mesma criada que fora agredida pelos soldados agradecia a Renée pelo feito que apesar de idiota definia a sua coragem.
- Quer dizer que sozinho fez frente aqueles rufias?... Tens coragem rapaz admito-o! – dá uma palmada nas costas de Renée que a faz gemer com as dores que ainda assolavam o abdómen.
- Então … não o magoes mais ainda! – riu-se - Eu chamo-me Armand Athos de la Fére… este gigantão é o Isac Porthos…vós!?
- Re… digo Aramis… o meu nome é Aramis d’Herblay… - sorriu – Obrigad…o, pela ajuda!
Só para terem uma noção da distancia de Noisy-le-Sec de Paris fica abaixo um mapa (é a região em amarelo)
Ja agora este é o brasão de armas da região...