Mais um capítulo.
VIII - Tempestade e amizade
- Tu és o QUÊ?!
- Uma mulher, Porthos.
- Mas como? Como? - Porthos ainda mal podia acreditar nos seus ouvidos. - Queres dizer que fingiste que eras um homem durante este tempo todo?
- Oh, Porthos, eu sei que vos enganei. E ninguém lamenta mais do que eu. - Disse Aramis com voz fragil. - Eu tive os meus motivos.
- Quais, por exemplo? Que não tinhas mais nada que fazer? - Zombou Porthos.
- Porthos, Tu não sabes a história toda! - Interveio D'artagnan.
- Tu sabias disto?
- Sabia. - Admitiu D'artagnan. - A Renée contou-me.
- Ainda mais essa! - Resmungou Porthos. - Enganaram-nos os dois.
- Julgas que isto foi facil para mim? - Exortou Aramis. - Não foi! Disso podes ter a certeza! Sabes porque fiz isto? Sabes? Foi por François, o meu noivo, que foi assassinado pelo Mason! Foi ele que me ensinou a arte da espada. E ensinou-me bem! O Treville não me deixou entrar nos mosqueteiros só por causa dos meus lindos olhos. Não imaginas o que é perder a pessoas que mais amas da maneira mais horrenda, teres de fingir ser alguém que não és, até mesmo para os teus amigos!
- Mesmo assim devias ter-nos contado. - Disse Athos. - Eu compreendo as tuas razões, mas ao menos podias ter falado connosco. É apenas isso que lamento: O facto de não teres confiado em nós.
Aquilo fora como um murro no estômago de Renée. Mais valia que Athos tivesse gritado com ela. Em vez disso, via-lha a desilusão no seu rosto, o que era algo que ela não suportava.
- Pois eu não compreendo. Ela escondeu que era uma mulher. Uma mulher! A nós, que fomos amigos...
dela durante seis anos! Não esperava isto. Muito menos de vocês os dois.
- Calma aí, Porthos!
- Calma aí, o tanas! Tu sabias disto e não disseste nada!
- Porque eu lhe pedi! - Defendeu aramis.
- Não disse nada porque o segredo não era meu. - Disse D'artagnan já sem paciência. - A Renée pode ser uma mulher, mas ela bate-se tão bem como qualquer homem ou até melhor! Então e tudo aquilo que passámos juntos? Ela não estava lá? Ao nosso lado?
- E daí? Os defeitos superam qualquer virtude!
- Porthos!
- Já agora, podias aproveitar que és uma mulher e falar com o Treville acerca dos mosqueteiros. Pode ser que ele te arranje qualquer coisa nas limpezas.
Aramis fez um enorme esforço para não chorar
- Porthos, isso era excusado! - Admoestou-o D'artagnan.
- Tu és quem menos devia falar! Só trazes problemas!
- Agora vingas-te em mim?!
- Rapazes, parem com isso! - Ordenou Athos.
- Tu sabias que ela era uma mulher! Caímos numa estupida armadilha! A Renée, Aramis ou lá como ela realmente se chama, que nos enganou, ficou ferida! E não conseguimos apanhar aqueles palhaços!
- Temos o tratado. E eu avisei, não avisei?
- D'artagnan! Porthos!
- Mas foi tarde demais! Temos pena!
- CHEGA! - Os dois calaram-se assim que Athos levantou a voz. - O que nos aconteceu já foi mau o suficiente. Amanhã falamos com calma. E não quero mais discussões, ouviram?
- Muito bem. - Porthos revantou-se e dirigiu-se para o quarto. - É melhor ficar por aqui antes que eu diga alguma coisa da qual me vá arrepender!
Sem saber o que dizer, D'artagnan e Athos permaneceram na sala, enquanto a chuva caía copiosamente e o vento soprava com força.
- Que dia!
- Bem podes dize-lo! - Anuiu Athos. - Eu vou falar com a Renée. Sempre soube que havia qualquer coisa de estranho no..."Aramis". Mas isto? Nunca me passou pela cabeça!
- Vai, Athos.
O gatinho que os seguia durante a viagem subiu para o colo de D'artagnan como se o quisesse consolar.
- Isto está muito complicado, amiguinho. - Desabafou ele enquanto lhe fazia festas.
- Então? Eles não vêm jantar? - Disse a senhora Elliot trazendo a comida para a mesa e estranhado não ver os outros na sala.
- Eu acho com tudo o que aconteceu, perderam o apetite. - Lamentou D’artagnan. O gatinho fugiu do colo de D'artagnan pois Meg andava atrás dele para brincar. - Será que isto pode ficar pior?
- Então, então! Tão jovem e já a perder a esperança? Para isso estou cá eu! - Disse a senhora Eliott olhando para a janela com ar triste. - Sabes, filho, por maiores que sejam as dificuldades, não nos podemos deixar abater. Anima-te, tudo se resolverá. Bem, se não querem comer, ao menos guardem para amanhã. A vossa viagem até França, pelos vistos, vai ser muito longa.
Athos bateu à porta do quarto de Renée. Ouvia-se alguns soluços da parte de dentro.
- Podes entrar. A porta está aberta.
Aramis ainda tentou disfarçar, no entanto Athos reparou logo que ela estivera a chorar.
- Como está o teu braço?
- Como se isso te importasse…
- Achas porventura que se não me importasse eu estaria aqui? - Perguntou Athos.
- Acho que não. - Disse Renée esboçando um meio sorriso. - Aposto que estás zangado comigo, não estás?
- Zangado? Nem por isso. Surpreendido? Muito. - Admitiu Athos. - E eu que achava que te conhecia. Mas tu poderias ter-nos contado, Renée. Será que não somos teus amigos o suficiente para não confiares em nós? Como pudemos chegar a este ponto?
- Não digas isso, Athos! Vocês são os meus melhores amigos. Os melhores e os mais verdadeiros que alguma vez conheci. - Garantiu Aramis. - Não vos contei por isso mesmo. Não queria que isto acontecesse.
- Nem eu. - Disse Athos. -
- Athos, vocês confiaram no Aramis. Será que podem confiar na Renée? - Perguntou Aramis.
- Porque não? “O que há num nome? Uma rosa, mesmo tendo outro nome, cheiraria igualmente bem.” Continuas a ser uma pessoa corajosa.
- Isso é do Shakespeare.
- Não sou propriamente eloquente.
- Isso dizes tu. - Disse Renée com um bocejo, já cansada de tantas emoções até finalmente adormecer.
- Boa noite, Renée. - Disse Athos. - Depois do que sofreste, mereces pelo menos ter sonhos felizes. – E saiu, deixando-a dormir.
Amanhecera. A chuva tinha parado. Apesar disso, entre os mosqueteiros, o clima ainda estava um pouco pesado.
- Ei, mosqueteiro de saias! Já estás pronta?
- Porthos, eu nem te vou responder! - Retorquiu Renée.
- Despacha-te! Vamos embora!
- Senhora Elliot, agradecemos-vos muito. - Disse D'artagnan.
- De nada. desejo-vos uma boa viagem e tenham cuidado. - Disse a simpática senhora. - A Meg também quer se despedir de vocês.
- Adeus, Meg. - Disse D'artagnan. - Um dia voltamos cá e eu trago o gatinho para brincar contigo, está bem?
A pequena fez um sinal afirmativo com a cabeça.
Missão cumprida, os quatro puseram-se a caminho do porto de Dover. D'artagnan já nem sabia quem estava mais zangado: Renée ou Porthos. Ambos seguiam calados e com má cara. Foi D'artagnan quem quebrou o gelo.
- Muito bem, quem é o primeiro?
- A quê? - Inquiriu Porthos com desdém.
- A falar! Ou vamos ficar amuados o tempo todo?
- Por mim podes começar tu. Eu não tenho nada a dizer.
- Pois eu tenho. A Renée continua a ser uma boa amiga. Tem tanta coragem como nós todos juntos. E tu Porthos, também estás sempre lá para o que der e vier. Não somos os quatro inseparáveis? Não se lembram quando nos conhecemos?
- Ah, sim. O "duelo" que tu provocaste.
- E aquilo que jurámos, Porthos? As espadas? O que fizeram por mim? Um por todos e todos por um? - Lembrou D'artagnan que, por muito anos que vivesse, nunca esqueceria esse dia.
- E assim vai continuar. Para sempre. Não vai?
- Para sempre, Athos. - Declarou Aramis. - Acho que deves um pedido de desculpas, Porthos.
- Sim. Desculpa. - Disse o matulão contrariado.
- E desculpa eu também. Obrigado, meu amigo grandalhão. - Disse Aramis, dando-lhe um grande abraço.
- Calma aí com os abraços! Eu ainda estou zangado contigo!
- Pois, pois...
Os quatro riram-se e seguiram viagem, prontos para outra. Porém, de uma coisa eles estavam certos: Mason, Ramirez, Mercedes e companhia não iriam desistir assim tão facilmente.
E pronto. Aqui está. Bem, depois da tempestade vem sempre a bonança, não é? Prontos para o próximo?
Última edição por Fraulein Andreia MC em Sex Mar 11, 2011 9:38 am, editado 6 vez(es)