Mascara de Ferro

Parece-me que o que queres dizer é que no episódio 33 se encontra a “prova” de que existe um qualquer relacionamento entre o D’Artagnan e a Milady.

Vi o episódio e em nenhum momento me parece que possa existir qualquer coisa de mais intenso entre eles. Para mim a retirada da máscara por parte de Milady não tem nada a ver com a presença de D’Artagnan naquele sítio. Destina-se mais aos telespectadores que estão a ver a série e tem como objectivo mostrar que aquilo não passa de um esquema para enganar os mosqueteiros que vão para o teatro enquanto o verdadeiro Máscara de Ferro está ocupado noutro local.

Aliás, quando Milady retira a máscara faz um comentário do género “que energia gasta inutilmente” o que me faz pressupor que ela até nem teve grande prazer em estar ali a desempenhar aquele papel.



Agora em relação ao livro é verdade que existe uma relação entre eles mas até que ponto é que os sentimentos são verdadeiros? Até que ponto é que eles são honestos e sinceros?

Quando D’Artagnan vê Milady na igreja reconhece nela a misteriosa mulher que ele conhece pela primeira vez quando faz a viagem para Paris e que encontra mais tarde quando vai a Inglaterra. Até então ele apenas a conhece como sendo a dama de Meung, de Calais e de Dover. Como não sabe nada sobre ela ele sente uma grande curiosidade em saber quem é esta pessoa, para além de estar convencido que ela está de algum modo relacionada com o desaparecimento da Constance. É nessa altura que ele decide arranjar um estratagema para se poder aproximar de Milady. A primeira ideia dele é precisamente essa, arranjar uma forma de se aproximar de Milady para poder descobrir um pouco mais sobre ela. Aliás é o próprio D’Artganan que diz que ama a Constance com o coração enquanto ama a Milady com a cabeça. A interpretação que faço desta afirmação é esta: D’Artagnan ama verdadeiramente a Constance mas não tem qualquer intenção ou vontade de amar Milady.

A primeira ideia dele é apenas aproximar-se de Milady para pôr em prática o seu plano mas é claro, as coisas raramente correm conforme o planeado e a pouco e pouco é o próprio D’Artagnan que se deixa enredar nas teias de sedução daquela bela e sinistra jovem. Acho que o D’Artagnan nem sabe muito bem aquilo que sente pela Milady. Ele está perante uma mulher muito bela e demasiado sedutora e quase sem se dar conta ele acaba por sentir uma paixão ardente e irracional por ela. Aliás diz-se no livro que D’Artagnan nutria por Milady uma estima insignificante mas uma paixão insensata, ébria de desprezo. Acho que na realidade aquilo que ele sente pela Milady é uma atracção quase fatal, um desejo praticamente irracional, um deslumbramento por uma mulher que é sedutora e que sabe seduzir.

Quando D’Artagnan se encontra com a Milady na tal noite em que descobre o segredo dela ele tem plena consciência que ela não o ama e que ele é apenas um instrumento de vingança que se acarinhava enquanto se esperava que cumprisse a sua missão, ou seja, Milady só está com D’Artagnan porque pretende que ele mate o Conde de Wardes que ela acredita que a traiu. D’Artagnan tem plena consciência disso mas sujeita-se a tudo porque está completamente fascinado por ela mas isto não é nada que não desapareça quando ele descobre o segredo dela e ela o tenta matar daquela forma tão selvática. Nessa altura todo o encantamento que ele sente por ela desaparece praticamente de forma instantânea e no fim o que fica é um sentimento de pânico por ter criado um inimigo tão perigoso que com certeza tudo fará para se vingar dele.



Esta é a minha forma de ver o relacionamento que na obra de Dumas o D’Artagnan tem com a Milady. Não me parece que se possa dizer que D’Artagnan nutre pela Milady os mesmos sentimentos que tem pela Constance e por isso dificilmente diria que a Milady é um dos dois amores de D’Artagnan. Mas isto é apenas a minha maneira de ver as coisas.