Bem, pessoalmente não diria que a Milady odeia a vida que leva porque observando todo o comportamento dela, quer seja na série como no filme, aquilo que se pode verificar é que ela é extremamente profissional em tudo o que faz.
O que quero dizer é que ela se empenha a fundo nas missões que tem de cumprir e não tem limites na sua maneira de actuar. Ela vai até às últimas consequências sejam elas quais forem para conseguir os seus objectivos, o que não me parece ser típico de uma pessoa que está a fazer algo por obrigação ou contrariada.
Além disso, uma outra coisa que se verifica é que ela não se limita apenas a cumprir as ordens que lhe são dadas.
Ela também toma a iniciativa quando as coisas lhe correm mal e as missões fracassam porque tanto no caso do Colar de diamantes como no caso da troca de reis, quando todos os planos falham e ela já está mais que derrotada, encontra sempre uma maneira para praticar as suas vinganças contra aqueles que considera terem estado na origem do seu fracasso. Quando ela faz isto já não é por encomenda de ninguém mas sim por sua única e exclusiva iniciativa. Nestes casos já não está em causa nenhum benefício monetário mas sim algum prazer que ela possa sentir por estar a aterrorizar os outros.
Agora no que diz respeito á maneira como ela se relaciona com o D’Artagnan nunca me pareceu que ela pudesse nutrir por ele qualquer tipo de sentimento para além de ódio ou talvez um pouco de respeito pelo adversário que ele é.
Para a Milady o D’Artagnan é um excelente oponente que aparece á sua frente com a intenção de perturbar os seus planos e se formos ver bem as coisas, ele dificulta-lhe muito a vida, o que acaba por ser bastante negativo para ela uma vez que Milady só será gratificada se for bem sucedida nas suas missões.
Ninguém acha com certeza, que o Cardeal lhe vai dar uma grande recompensa depois de a rainha aparecer no baile com o colar que tinha sido oferecido ao Duque.
Para a Milady, o D’Artagnan é um adversário de respeito e acho que é assim que ela o vê, como um inimigo que aparece para lhe dificultar a vida e que ela tenta a todo o custo eliminar.
O nível de vida que Milady tem só existe enquanto ela conseguir desempenhar satisfatoriamente as tarefas para que é contratada. A partir do momento em que ela comece a falhar, ficará sozinha porque as pessoas para quem trabalha não têm grande sentido de lealdade e por isso não a apoiarão nestes casos. Ela será facilmente descartada assim que deixar de ter utilidade e também é isso que D’Artagnan representa – uma ameaça para o estilo de vida que ela tem.
Quando muito o que ela pode admirar é a sua força e persistência que o levam a fazer tudo para contrariar os seus planos.
Aliás, se a Milady tivesse algum interesse romântico no D’Artagnan as perspectivas de vida da Constance ficariam seriamente afectadas
pois com a persistência que a Milady coloca em tudo o que faz, acho que a Constance não iria ter uma vida muito longa.
Um outro aspecto que também gostaria de focar diz respeito á maneira como a Milady se relaciona com as outras pessoas.
A Milady que aparece na versão “Anime Sanjushi” é uma pessoa magoada com a vida e revoltada com tudo aquilo que lhe tem acontecido. Por isso mesmo, acaba por ser uma mulher solitária que pretende seguir o seu caminho sozinha, sem interferências de ninguém. Acho que ela não ama nem nunca amou ninguém ao longo da sua vida, nem pretende amar ou sequer fingir que ama. Acho que o relacionamento mais sério que ela consegue ter é com o seu macaquinho Pepe. Acho que este é o único ser com o qual ela se preocupa verdadeiramente e com o qual consegue ter uma relação mais séria e estável. Acho que ela é incapaz de amar devido a tudo o que lhe aconteceu e talvez nunca tenha encontrado ninguém que lhe tenha despertado esse sentimento.
Pelo contrário, a Milady retratada pelo Alexandre Dumas é uma mulher muito mais maquiavélica e mais ambiciosa que quer ter poder e dinheiro e que não tem limites para alcançar os seus objectivos. Esta Milady usa e abusa dos seus atributos femininos desde que isso sirva para alcançar os seus fins. Ela casa com homens ricos e fidalgos apenas pelo estatuto e poder que isso lhe pode trazer mas também não hesita em usar plebeus se isso a ajudar a alcançar os seus propósitos.
O que quero dizer é que neste aspecto parece-me que há grandes diferenças entre as duas Miladys.
Enquanto a Milady de Dumas não hesita em destruir as vidas de homens inocentes apenas pelos benefícios que pode acabar por obter, a Milady da versão “Anime Sanjushi” é um ser mais solitário que nunca teve um relacionamento amoroso sério com nenhum homem.